Jornada Mundial da Juventude de 1989 marca o renascimento das peregrinações a Compostela

Desulpa: Chegada de João Paulo II à Catedral, em agosto de 1989, envergando as vestes de peregrino (com esclavina ornada de conchas de vieira e um bordão em forma de tau). Fonte: Pastoral Santiago

Por estes dias a cidade de Lisboa recebe a décima sexta Jornada Mundial da Juventude (JMJ), uma iniciativa da igreja católica fundada pelo Papa João Paulo II. A JMJ de 1989, realizada em Santiago de Compostela, marcou o regresso definitivo e em força das peregrinações jacobeias.

Lisboa recebe o Papa Francisco para participar na Jornada Mundial da Juventude, um evento religioso organizado pela Igreja Católica, que reúne jovens católicos de todo o mundo para celebrar a sua fé e espiritualidade. Na visita anterior do pontífice argentino a Portugal, em maio de 2017, o Papa deslocou-se apenas a Fátima, por ocasião do centésimo aniversário das aparições marianas.

A história da JMJ começou em 1984, por iniciativa do Papa São João Paulo II, e, desde então tornou-se um evento emblemático para os jovens católicos, que vai já na sua décima sexta edição. A primeira JMJ aconteceu em 1986, na cidade de Roma (que voltou a receber a iniciativa no ano 2000). O evento foi proposto pelo Papa João Paulo II como uma oportunidade para a juventude católica reunir-se para celebrar a fé cristã. Após o sucesso da primeira JMJ, o Papa João Paulo II decidiu tornar o evento internacional e itinerante.

Pode ler o artigo completo na minha crónica da revista Draft World Magazine de 4 de agosto de 2023 em https://www.draft-worldmagazine.com/post/jmj-iniciativa-fundada-pelo-papa-joao-paulo-ii

Ultreia et suseia!

Entrevista ao podcast “Pédcast do Peregrino”

🙏 Não podia de ser de outra forma: ainda não refeito da mais recente viagem a Santiago, um mimo de jornalista para jornalista. Obrigado amigo (e aniversariante Hélio Araújo) por colocares no ar uma nova entrevista que tanto me deu gozo realizar e, por ser dia de festa jacobeia, tem um reforçado significado. Os astros se conjugam para que as realizações aconteçam, numa época de normas desafios mas com a oportunidade das distâncias se duvidarem à distância de um toque! Ultreia et Suseia! “ link para a entrevista no final do texto citado 😉

25 DE JULHO, DIA DE SANTIAGO: CONHEÇA UM POUCO SOBRE A HISTÓRIA DO APÓSTOLO

Comemora-se hoje, 25 DE JULHO, o DIA DE SANTIAGO, um dos doze APÓSTOLOS de Jesus Cristo, que esteve presente nos momentos mais importantes da vida do filho de José e Maria. Conta a lenda que, após a RESSUREIÇÃO de Jesus, os apóstolos saíram da Judeia para espalhar SUAS PALAVRAS pelo mundo. SANTIAGO, vindo da Terra Santa, chegou à região da GALÍCIA, na Espanha, no ano de 34 d.C., tendo rezado sua PRIMEIRA MISSA em Iria Flavia, município de PADRÓN.

Mas, quem foi SANTIAGO, o Maior? Seus familiares? Como foi o processo de EVANGELIZAÇÃO na Espanha? Porque foi MORTO e decapitado em seu retorno à JERUSALÉM? Como seu corpo chegou à Galícia? Porque foi aclamado como PADROEIRO DA ESPANHA? Como é o RITUAL dos peregrinos que chegam hoje à CATEDRAL DE SANTIAGO na cidade de Compostela?

Com o objetivo de conhecer um pouco mais da história do APÓSTOLO SANTIAGO, o PÉDCAST DO CAMINHO recebe, neste dia festivo e especial para os PEREGRINOS, um dos mais conceituados especialistas quando o assunto é CAMINHO DE SANTIAGO: o jornalista, professor universitário, explorador, divulgador do Património e Investigador em Comunicação e Patrimônio Cultural ARTUR FILIPE DOS SANTOS.

Ouça, dê sugestões, faça críticas, elogie. Conto com sua participação.

Buen Camiño!”

Hélio Araújo

Um dos mais fascinantes regressos a Santiago

Na Praça do Obradoiro, no final da Missa Nacional de Oferenda ao Apóstolo

O ano de 2023 fica para a história, ao marcar o regresso a Santiago de Compostela para assistir às festas do Apóstolo e a tomar parte nas cerimónias oficiais do santo patrono da Espanha e do Dia da Galiza. Uma jornada que começou, na véspera, a 24 de julho, com a visita ao Pazo de Gelmirez, aos telhados da catedral, na companhia da historiadora de arte Vanessa Lamas, terminando o périplo investigador no museu.

Pela noite oportunidade de me unir ao mar de gente que, literalmente, invadiu a cidade para experienciar os “Fogos do Apóstolo”, espetáculo pirotécnico que iluminou, durante 20 minutos, os céus compostelanos.

Na manhã de 25 tive a oportunidade de realizar a cobertura jornalística para a Draft World Magazine dos atos oficiais do Dia de Santiago e da Galiza, começando com as cerimónias militares, que tiveram na Praça do Obradoiro.

O ponto alto foi, como sempre, a missa nacional de Oferenda ao Apóstolo, este ano culminando com a apresentação do novo arcebispo compostelano, D. Francisco Prieto. E a presença de dezenas de jovens peregrinos em trânsito para as Jornadas Mundiais da Juventude, que este ano decorrem em Lisboa, com a presença confirmada do Papa Francisco.

A eucaristia findou, como é hábito nos atos mais importantes da sé compostelana com a viagem do botafumeiro.

NG dedica edição especial aos Caminhos Portugueses

E porque os Caminhos Portugueses estão definitivamente na moda, recomendo a edição especial da NG deste mês, dedicada precisamente às rotas jacobeias que povoam o nosso território, destacando as excelentes contribuições dos amigos Nuno Rodrigues (com magnífica alusão ao restaurante Pedra Furada, repouso e repasto de peregrinos, do amigo Antonio Herculano Ferreira) e Nuno Pontes da Costa, felicitando a extraordinária coordenação e a profundidade dos textos de Paulo Almeida Fernandes, sentindo-me refletido na riqueza da informação e do acervo fotográfico. Juntos trabalhamos para a preservação do património cultural dos Caminhos Portugueses a Santiago de Compostela. Ultreia et suseia! #caminhodesantiago #caminhoportugues

As Festas de S. João e o Caminho de Santiago

Um pouco por toda a Galiza ouvem-se as gaitas de fole e salta-se à fogueira na noite de San Xoan

Permitido a transcrição completa e parcial deste artigo com as seguinte citas:

Santos, Artur Filipe (2022). A noite de S. João e o Caminho de Santiago. Disponível em https://omeucaminhodesantiago.wordpress.com/2022/06/25/a-noite-de-s-joao-e-o-caminho-de-santiago%ef%bf%bc/ . Acedido a…)

Desde tempos imemoriais que o Homem sempre procurou alimentar uma relação profunda com as forças da natureza, conectando-se com a passagem das estações, fortalecer-se com a dimensão telúrica da sua própria existência. Por essa razão, antropólogos e historiadores não duvidam da tradição humana em prestar culto às manifestações da natureza, como forma de agradecer as dádivas da terra, oferecendo-lhe oferendas, sacrificando-se em longas jornadas de caminho apenas para ver o sol cair no abismo do fim do mundo, dedicar-lhe longas interpretações musicais. Neste caldo cultural de simbiose com o cosmos não faltam as gigantes fogueiras, símbolos indeléveis da relação das sociedades humanas com o pêndulo das eras, na esperança de que o inverno não seja tão rigoroso ou escuro e que o estio não queime as culturas que garantem o alimento das famílias naquela temporada.

Não é de estranhar então que o hábito de peregrinar e de festejar os dias mais longos tenham caminhado de mãos dada até aos dias de hoje, sob a forma de festejar a noite de S. João.

Um pouco por toda a rota jacobeia podemos encontrar provas dessa relação entre a necessidade de rumar a lugares onde a relação do Homem com as forças da natureza parecem mais fortes, ao mesmo tempo em que espantamos os maus espíritos, as sombras negras dos nossos medos, o temor da escuridão personificada nos inimigos que enfrentamos e, em última análise, o horror que a morte representa.

Numa terra muito próxima ao Caminho Português Central, mais concretamente a variante que conecta o Porto a Braga, existe uma tradição que mistura o sagrado com o profano, o bem contra o mal, libertando todas as crenças numa série de danças que recorda o conflito entre os povos cristãos do noroeste peninsular e os muçulmanos. Estou a falar de Sobrado, em Valongo, no distrito do Porto, que todos os anos, provavelmente há mais de cinco séculos, celebra a 24 de junho, as festas em honra a S. João Batista, conhecidas como a Bugiada e a Mouriscada.

Em Sobrado, Valongo, no dia de S. João saem à rua os Bugios e os Mourisqueiros. É a Bugiada e Mouriscada, uma das tradições mais seculares e autenticas das festas de São João em Portugal e no noroeste da Península Ibérica. Atualmente esta manifestação cultural é candidata a património imaterial da Humanidade.

Uma tradição muito estudada por antropólogos do séc. XIX e XX, com destaque para José Leite de Vasconcelos, em particular para a sua obra “Etnografia Portuguesa”, publicada nos anos 30. Neste livro, o célebre linguista, filólogo, arqueólogo e, claro, antropólogo, nascido junto à Torre de Ucanha em 1858, desvenda a origem desta manifestação cultural, ao mesmo tempo que descreve os seus rituais.

A tradição relata que habitavam na serra de Cucamacuca (nome por que era conhecida, na Idade Média, a Serra de Santa Justa) mouros (mourisqueiros), que viviam provavelmente da extração do ouro e do comércio entre os vales do rio Ferreira e Sousa até ao Douro, tendo a filha do Reimoeiro (deturpação de Rei Moiro pelo modo de falar local) ficado gravemente doente. O líder muçulmano terá convocado todos os sábios e curandeiros da região a fim de curarem a sua filha, contudo sem resultados, pois não havia jeito da jovem princesa melhorar. O Reimoeiro começava a impacientar-se quando, a páginas tantas, ouviu falar de um grupo de cristãos que habitava ali perto (em Sobrado) e que tinha uma imagem milagrosa de S. João Batista. Esse grupo de seguidores de Cristo eram conhecidos como os bugios. A mesma imagem já havia, anteriormente curado a filha do ancião da tribo cristã, conhecido como o Velho da Bugiada. O Reimoeiro, temendo pela saúde da sua descendente, pediu a imagem emprestada aos bugios, que num ato de generosidade ecuménica, acederem ao pedido. A princesa moura curou-se por fim. Numa aparente gratidão, o Reimoeiro decide organizar grandes festas em honra de S. João, mas recusa-se a devolver a imagem aos bugios. A ingratidão do Reimoeiro vai de tal maneira longe, que, em almoço por ele oferecido, numa espécie de afronta final oferece aos bugios os restos do repasto. Estava dado o tiro de partida para uma querela entre cristãos e seguidores de Maomé, entre os bugios e os mourisqueiros. Os bugios reclamavam a imagem como sua, os mouros recusam-se a dá-la. Estala a guerra, se, no entanto, impedir que se troquem mensagens entre os beligerantes a fim de se chegar à paz. Nada feito. São chamados à peleja os “doutores de Lei” (advogados), com o intuito de debater as leis entre eles. Também não chegam a acordo, trocam-se tiros entre os dois redutos, conhecidos como Palanques. O ambiente ferve lá os lados de S. João de Sobrado. O Reimoeiro, decido a resolver a contenda de vez, reúne o exército e toma o palanque cristão (bugio) de assalto prendendo o Velho (líder dos bugios). Tudo parece irremediavelmente perdido, sem a imagem e com o velho preso, o conjunto cristão acredita que o seu fim está próximo, às mãos mouras. O líder cristão é levado e todos esperam um milagre para salvar o Velho e seu povo de um final infeliz. Mas, eis que um grupo de bugios fiéis ao rei surge, entre a multidão, trazendo consigo uma serpente gigantesca que assusta os mouros, que fogem, deixando o Velho da Bugiada e a imagem para trás). A lenda foi passada de geração em geração até chegar aos nossos dias sobre a forma de rituais cénicos que juntam o melhor das manifestações culturais imateriais, roupas de características únicas, inseridas no movimento da máscara ibérica. Danças teatrais ao som de instrumentos musicais tradicionais, como a guitarra clássica, a viola braguesa, a rabeca ou o violino. Atualmente a Bugiada e Mouriscada é candidata à inclusão no Inventário Nacional do Património Imaterial, condição fundamental para uma futura inscrição na lista do Património do Património Mundial.

Na Galiza, mas também na cidade do Porto, onde o rio Douro encontra o oceano, a tradição de acender fogueiras na noite de S. João ainda persistem.

Já na vizinha Galiza é a noite mais curta do ano a rainha das festas em honra a S. João. Conhecida como a “Noite Meiga”, a véspera de San Xuan ou Noite de San Xuan é uma celebração cristã, impregnada de origens e simbologia pagã. Marca o início do verão, mas também o início do encurtamento das noites. Nesta festa ainda hoje é tradição acender grandes fogueiras, para alongar ainda mais o dia mais longo do ano, para dar mais força ao sol. Como ainda hoje se celebra, era normal, como ainda agora acontece, não só em terras galegas mas também na cidade do Porto e em Braga, no norte e Portugal, peregrinar ao areal,  acender volumosas fogueiras na praia, saltar sobre elas e depois mergulhar no mar, como rito de purificação.

Preparando a Queimada Galega, em Seixas, Caminha, no Caminho Português da Costa, com o “conjuro” a cargo de Alberto Barbosa, presidente da Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Viana do Castelo.

Nas Astúrias, de onde parte o Camiho Primitivo e por passa também o Caminho do Norte, a noite de “San Juan” é festejada junto a uma impressionante fogueira, nas quais as comunidade se reunem em círculo à volta da fogueira dançando e cantando a “Danza Prima”, num baile coletivo que, para muitos, é, inclusivamente, considerada a dança mais antiga do mundo (Clique aqui para assistir a um vídeo)

Danza Prima realizada na Plaza de Pedro Menéndez, em Avilés, cidade costeira asturiana, a norte da capital do Principado, Oviedo

Também em Santiago de Compostela a tradição das fogueiras se cumpre em algumas das suas principais praças, com o objetivo de espantar as “meigas”, o mau olhado, prepara-se a célebre Queimada Galega para afastar os demónios e apaziguar as forças do “ar, terra, mar y lume” e, ao som das gaitas, assistem-se a danças que se perdem nas raízes do tempo, ao mesmo tempo que se sente no ar a fragrância das “herbas de San Xoan”.

Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários

Sé Catedral de Santarém

Artigo publicado originalmente na revista Draft World Magazine (Disponível em: https://www.draft-worldmagazine.com/post/da-capital-do-gotico-ao-reduto-dos-templarios)

Permitido a transcrição completa e parcial deste artigo com as seguinte citas:

Santos, Artur Filipe (2022). Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários. Disponível em https://www.draft-worldmagazine.com/post/da-capital-do-gotico-ao-reduto-dos-templarios . Acedido a…)

Santos, Artur Filipe (2022). Da Capital do Gótico ao Reduto dos Templários. Disponível em https://omeucaminhodesantiago.wordpress.com/2022/05/23/da-capital-do-gotico-ao-reduto-dos-templarios/. Acedido a…

A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago

Capítulo VI – Pelo Caminho Central, de Lisboa ao Porto tanto património para descobrir – Parte 2

Da Azambuja a Santarém, a paisagem leva-nos a planar pela lezíria ribatejana. Campo e campo a perder de vista, com o Tejo sempre ao lado e os touros a lembrar-nos que a natureza não é só belo, é também força e robustez. Mas o peregrino não precisa de ser duro para realizar quase 30 quilómetros desde a casa de partida até alcançar à “capital do Gótico”. Vai poder descansar mirando o património cultural mas também natural da cidade do Cartaxo, tal como fez a Rainha Santa Isabel.

Pássaro de nome Cartaxo
Fotografia | Pássaro de nome Cartaxo

Diz a lenda que, quando a esposa de D. Dinis peregrinou pela primeira vez a Santiago de Compostela, em direção ao Mosteiro de Santa Maria de Almoster, em Santarém, terá passado pelas terras de Barrio, lugar onde hoje se ergue esta cidade. Parou para repousar mas também para dar de beber à sede, aproveitando uma fonte que se encontrava no lugarejo. Ao “passar pelas brasas” a Santa acordou deliciada com o chilrear mais encantador que alguma vez ouviu. Procurando saber de onde vinha aquele canto, cedo encontrou os responsáveis pela melodia, umas pequenas e frágeis aves que nunca tinha vislumbrado. Como não conhecia a espécie de ave cantora que escutou e avistou, procurou saber junto de camponeses que habitavam aquele preciso local, onde a rainha descansava (conhecido como o “Lugar da Fonte”), em busca de revelação, ao que os mesmos lhe segredaram que eram “cartaxos”. A tradição conta então que a rainha terá decretado alto e bom som:

“Pela Graça de Deus, pelo poder que me foi atribuído, que este Lugar da Fonte se passe a chamar de agora em diante Lugar de Cartaxo, e que seja assim para toda a eternidade, e que todas as gentes saibam, e assim se faça de acordo com as leis dos homens sob a presença de meu marido o muy nobre el-rey Dom Dinis e de acordo com as regras de Deus Nosso Senhor Todo-poderoso, que ordena sobre o Céu e sobre a Terra…”. Rainha Santa Isabel

Rainha Santa Isabel, o Milagre das Rosas, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbr

Certo é que esta cidade guarda encantos que valem a pena descobrir nas mais diferentes épocas do ano, por exemplo na Primavera, quando os campos de margaridas do Cartaxo florescem ou mesmo no outono, para “roubar” alguns bagos de uva das suas reconhecidas vinhas. E pode muito bem deixar-se deliciar pela melodia dos cartaxos.

Eis-nos chegados à terra dos escalabitanos, assim se chamam os habitantes da cidade de Santarém.

E se a tradição diz que Lisboa terá sido fundada por Ulisses, Santarém deve a sua existência mitológica a Abidis, que, nascido de uma relação proibida entre o rei de Ítaca e a deusa Calipso, terá sido abandonado por Gorgoris, seu avô, rei dos Cunetas (ou Cinetes, como lhes chamou o geógrafo Heródoto, um povo que habitava, na antiguidade, estas paragens). Colocado dentro de uma cesta no rio Tejo (qualquer semelhança com a história de Moisés é pura coincidência), quis o destino que a mesma tenha rumado às margens de onde hoje se levanta uma das mais bonitas cidades portuguesas. Criado por uma serva de sua mãe, mais tarde foi reconhecido por Calipso. Impressionada pela riqueza natural e de recursos, o novo rei terá decidido outorgar àquelas terras o nome de Esca Abidis, o “manjar de Abidis”.

Rua típica do centro histórico de Santarém

É um regalo para os olhos de todo o verdadeiro peregrino que busca no Caminho descobrir as pérolas da história e do património dos lugares por onde passa. Desde a Sé Catedral, também conhecida como a Igreja do Seminário ou Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Colégio dos Jesuítas, passando pelos exemplares realmente góticos como a igreja de S. João de Alporão ou a de Santa Maria da Graça.

Mas é com as vistas para o Tejo, a partir do jardim das portas do Sol que ganhamos consciência da extensão e beleza das terras ribatejanas.

Com tanto para ver na cidade onde repousa o navegador Pedro Álvares Cabral (na também gótica Igreja da Graça), custa voltar, manhã cedo, ao Caminho, mas a Golegã já espera por nós, depois de um “esticão” de 30 km (atenção à época em que realizamos o Caminho, pois o verão é abrasador nestas paragens).

Terra da prestigiada feira do cavalo lusitano, a vila onde nasceu o escritor José Saramago não passa despercebida, pois quem entra pelo belíssimo pórtico gótico manuelino da Igreja-Matriz da Golegã (de evocação à Nossa Senhora da Conceição) não deixa de levar boas recordações deste lugar.

A cavalo, a pé ou mesmo de bicicleta, pouco mais de duas dezenas de quilómetros nos separam de uma das mais importantes paragens do Caminho Português: Tomar, a praça-forte dos Cavaleiros Templários. Será aqui, na terra que guarda a memória de uma das mais importantes personalidades da Ordem dos Pobres Cavaleiros do Templo de Salomão, o grão-mestre D. Gualdim Pais, que alcançamos o “Porto do Graal”?

Pelo Caminho Central, de Lisboa ao Porto, tanto património para descobrir – Parte 1

Ponte de Santarém sobre o rio Tejo, foto obtida a partir do Jardim das Portas do Sol

Artigo publicado originalmente na revista Draft World Magazine (Disponível em: https://www.draft-worldmagazine.com/post/rota-do-patrimonio-da-costa-atlantica-portuguesa)

Permitido a transcrição completa e parcial deste artigo com as seguinte citas:

Santos, Artur Filipe (2021). Rota do Património da Costa Atlântica Portuguesa. Disponível em https://www.draft-worldmagazine.com/post/rota-do-patrimonio-da-costa-atlantica-portuguesa . Acedido a…)

Santos, Artur Filipe (2021).Pelo Caminho Central, de Lisboa ao Porto, tanto património para descobrir – Parte 1. Disponível em hhttps://omeucaminhodesantiago.wordpress.com/2021/09/08/portugal-dos-varios-caminhos-a-santiago/. Acedido a…

Lisboa, Felicitas Julia ou Olissipo. Se é da cidade do Porto que a grande maioria dos peregrinos que realizam o Caminho Central optam por partir em direção a Santiago de Compostela (via Porto cerca de 34%, ao passo que a capital convence tão somente 4%, segundo estatísticas de 2019), a verdade é que inaugurar a jornada na cidade que viu nascer Santo António garante uma experiência transcendental a todos os que desejem realmente conhecer o melhor do património da costa atlântica portuguesa, percorrendo 610 quilómetros até à capital da Galiza, passando por lugares mágicos da história e cultura lusa, como Santarém, Tomar ou Coimbra até alcançar a Cidade Invicta e daí rumo à fronteira.

E se queremos iniciar a primeira de 25 etapas na cidade fundada, dois séculos antes de Cristo, pelos Fenícios (cujo primeiro nome terá sido Allis Ubo, que provavelmente significaria “Porto Seguro”) então por onde poderemos começar: pela Sé Catedral ou pela Igreja de Santiago?

Fotografia | À esq. Sé Catedral Patriacal de Lisboa. À direit. Igreja de Santiago de Lisboa.

Referência fundamental do românico português, a Sé Catedral Patriarcal de Lisboa, fundada em 1150, é o ponto de partida para muitos peregrinos, sobretudo espanhóis, pelo facto de acolher, desde 1173, as relíquias de São Vicente de Saragoça, mercê do voto que o rei D. Afonso Henriques proferiu em 1147 durante o cerco à cidade, à época sob o domínio muçulmano.

Igreja Santiago de Lisboa
Fotografia | Igreja de Santiago de Lisboa

Mas não são poucos que veem na igreja de Santiago como o início da aventura jacobeia. A tradição diz que o primeiro rei da primeira dinastia terá pedido a ajuda do Apóstolo na luta contra os mouros, prometendo construir a primeira igreja de Lisboa cristianizada em honra a Santiago. Contudo, só muito mais tarde, por volta de 1209, é que surge, num códice medieval, a primeira referência a este cenóbio como “Ecclesiæ Sanctus Jacobus de Ulixbona”.

E se o ponto de partida fica ao critério de cada um, dos 33 quilómetros que separam a cidade das Sete Colinas (como Roma) a Alhandra não há que enganar. Não sem antes de aproveitar a luz e o património de Lisboa, o Mosteiro dos Jerónimos, a Torre de Belém e o Padrão dos Descobrimentos, a Rua Augusta, o Terreiro do Paço e ouvir as conversas dos cafés e botequins do Chiado, ouvir cantar o fado em Alfama e na Mouraria.

Vista para o Mar da Palha, com a ponte Vasco da Gama, inaugurada em 1998, aquando da Exposição Mundial de Lisboa
Fotografia | Vista para o Mar da Palha, com a ponte Vasco da Gama, inaugurada em 1998, aquando da Exposição Mundial de Lisboa.

Prontos para nos fazermos ao Caminho, nesta primeira etapa, o peregrino terá a oportunidade de contemplar o Mar da Palha (onde o rio Tejo alcança a sua maior extensão em termos de distância entre margens, cerca de 23 km) passar por Alverca do Ribatejo (onde merecem destaque as bonitas igrejas da Misericórdia e de S. Pedro e ainda o pelourinho mandado erguer pelo rei D. Manuel em 1530 e que conferia a esta antiga cidade a dignidade de município) até avistar um dos maiores mouchões (espécie de ilhota) do rio Tejo, precisamente o Mouchão de Alhandra.

Na freguesia do concelho de Vila Franca de Xira, para além de já podermos contemplar a paisagem fértil da lezíria ribatejana (que nos acompanhará durante a próxima etapa) podemos ainda descobrir o bonito coreto, construído em 1934 e que se destaca por uma das construções deste género mais bem preservadas do país. Merece relevo, antes de seguir viagem, a igreja matriz e a casa-museu do médico e professor José de Sousa Martins.

paisagem da lezíria a partir do jardim das Portas do Sol, Santarém
Fotografia | Paisagem da lezíria a partir do jardim das Portas do Sol, Santarém.

E porque o tempo não estica no que ao passo peregrino diz respeito, a segunda etapa a partir de Lisboa começará ao raiar do dia, e, muito provavelmente, seremos acompanhados por uma névoa característica que se ergue das margens do Tejo, à medida que nos vamos deixando fascinar pela planície fértil ribatejana, a que os muçulmanos chamaram de Lezíria. Ao chegar à Vila Franca de Xira, nada melhor do que comer uma fruta no bonito mercado municipal, inaugurado em 1929, e que se destaca pelos azulejos que retratam o modo de vida das gentes à beira-Tejo, com o estuário a enriquecer as redes de pesca e a proporcionar fartas colheitas.

Conhecida como a “Sevilha Portuguesa”, Vila Franca de Xira convida-nos também a descobrir as igrejas de S. Sebastião (uma igreja quase tirada a papel químico da igreja de Santiago de Lisboa no que à sua configuração diz respeito) e da Misericórdia, de arquitetura barroca típica da Estremadura e do Ribatejo, além da importante estação de comboios, que representou um papel fundamental na epopeia dos caminhos-de-ferro em Portugal. O tempo é escasso, mas vale a pena contemplar a arquitetura arrojada da biblioteca municipal. Antes de rumar à localidade que marca o final da etapa, na Azambuja, importa descobrir – com o Tejo ao nosso lado e a ponte Marechal Carmona (inaugurada em 1951) a unir as duas margens – o marco da IV Légua (edificado em 1788, por intervenção da rainha D. Maria I), que em conjunto com outros 12, assinalavam a primeira estrada entre Lisboa e a importante cidade de Santarém.

Ao chegar à Azambuja, para além de descansar os pés de 24 quilómetros de jornada, importa sentir o pulsar cultural desta terra de campinos (cavaleiros ribatejanos que, munidos de uma vara e vestidos com o típico colete vermelho, faixa encarnada à cintura e gorro verde na cabeça, conduzem os touros pelas planícies) e viajar pela história desta localidade ao contemplar o pelourinho e o palácio do célebre Intendente Diogo Inácio de Pina Manique, personagem histórica que se destacou na atividade de magistrado e ainda como fiscal da Junta de Administração da Companhia Geral de Comércio de Pernambuco e Paraíba, no Brasil.

Já falta pouco (apenas 32 quilómetros) para alcançar Santarém, a capital do Gótico português!

A história do Caminho de Santiago no “PédCast”, o Podcast do Peregrino

Participação no “pédcast”, o podcast do peregrino, do jornalista e professor Hélio Araújo

Foi uma experiência maravilhosa a minha participação no podcast do jornalista, professor e peregrino brasileiro Hélio Araújo, uma entrevista intimista à volta da história dos Caminhos de Santiago, cujo áudio se encontra disponível nas plataformas de Spotify e Anchor em:

https://open.spotify.com/episode/2wuGNLgA24jLgswjMcK73v
e
https://anchor.fm/dashboard/episode/e1cf3jv

Bruxas e meigas, trasgos e diaños no Caminho de Santiago: o Samhain como manifestação do património imaterial Galego-Português

Na Casal Cotón, em Santiago de Compostela, famosa casa das Tartes de Santiago e outras iguarias Compostelanas


Encantam-me as festividades do novo ano celta do norte de Portugal e da Galiza à minha saudosa Escócia), nào só pelas minhas raízes encrostadas no frio norte mas pelo misticismo representado na relação divina que os celtas mantinham com a natureza, com o ponto alto desta relação representado nas festividades do Samahain:
O Samhain é um dos festivais mais antigos do noroeste peninsular, que une a cultura galega e portuguesa desde os tempos em que nenhuma fronteira se riscava no mapa e que ainda hoje se encontra esbatida pelas tradições que unem Porto a Compostela, Valença a Tui, Braga a Lugo, Chaves a Verín.
O passado celta está bem vincado nos dois lados da raia e atualmente é motivo de estudo antropólogico, bem como de promoção turística positiva, exemplos de manifestações culturais ligadas aos festivais das estações do ano e do entrudo, destacando-se o trabalho extraordinário de personalidades como o Padre Fontes (o “Cura” de Vilar de Perdizes), Elias Valiña (o “Cura” do Cebreiro) e as gentes de Podence e Lazarim. Hoje são património que busca a sua classificação como bem imaterial da Humanidade.
E neste dia 31 de Outubro acendem-se as fogueiras, bebem-se queimadas, rezam-se conjuros.
É o Samhain, a nossa versão autêntica do “antepassado” antropólogico do atual Halloween. Por estes dias e até ao dia de S. Martinho, o calendário celta celebra o ano novo rumo ao inverno, com rezas e mezinhas para pedir um tempo frio curto e manso. Festeja-se o fim das colheitas, prova-se o vinho novo (desde que os romanos introduziram o cultivo da vinha na Península), comem-se frutos secos como a castanha.
Mas algumas das tradições que ainda hoje conhecemos são as que dizem respeito às superstições, proferindo-se à volta de aguardentes queimadas e de lareiras poderosas conjuros para afastar as meigas, bruxas más do mau olhado e dos meigallos, feitiços que fariam mirrar o próximo ano agrícola. E as bruxas, essas as boas, as que ajudavam a derrotar as meigas e os trasgos e dianos, duendes e demónios maléficos que nos invadiam os sonhos. Ainda hoje as bruxas (ou bruxias) da boa sorte são um dos símbolos da Galiza.

Um pouco por todo o Caminho Português, assim com outros que acorrem a Compostela , encontramos as marcas da cultura que nos puxa para os tempos em que Homem Natureza praticavam a simbiose perfeita na arte de receber e ficar agradecido.

Portugal dos Vários Caminhos a Santiago

Os Caminhos Portugueses a Santiago
Ponte de Lima, caminho Central, banhada pelo rio que os romanos chamavam de “Lethes”, o “Rio do Esquecimento”.

Artigo publicado originalmente na revista Draft World Magazine (https://www.draft-worldmagazine.com/post/os-caminhos-portugueses-a-santiago)

Permitido a transcrição completa e parcial deste artigo com as seguinte citas:

Santos, Artur Filipe (2021). A História, as Lendas e o Património dos Caminhos de Santiago. Disponível em  https://www.draft-worldmagazine.com/post/os-caminhos-portugueses-a-santiago. Acedido a…)

Santos, Artur Filipe (2021). Portugal dos Vários Caminhos a Santiago. Disponível em hhttps://omeucaminhodesantiago.wordpress.com/2021/09/08/portugal-dos-varios-caminhos-a-santiago/. Acedido a…

Em Portugal existem, nos dias de hoje, várias rotas a Compostela. Algumas mais antigas do que outras, umas mais originais, outras que resultam do desenvolvimento turístico-económico que o ressurgimento em massa das peregrinações provocou. Certo é que a dinâmica jacobeia conhece, no nosso território, um forte incremento. 

O Caminho Português Central é o mais percorrido de todas as vias portuguesas. É um itinerário desenvolvido tendo por base a via romana XVI ou Via Marítima, que ligava a cidade de Olisipo (atual Lisboa, que na época fazia parte da província da Lusitânia), e Bracara Augusta, nome dado pelos romanos à atual Cidade dos Arcebispos, e daí seguia a via XVII em direção a outra importante cidade da Galécia, Asturica Augusta, atual Astorga.

Descrita no itinerário de Antonino (registo de todas as vias romanas redigido entre os séc. II e III da nossa era, deve, provavelmente, o seu nome, a Antonino Caracala), quem por esta via caminhava passava por cidades já tão importantes naquela época como Scallabis (Santarém) e Ierabriga (Alenquer), Seilum (Tomar), Conímbriga, Aeminium (Coimbra) e daqui até Langóbriga (atual Fiães, no concelho de Santa Maria da Feira) alcançando Portus Cale e finalmente Bracara. 

Contudo, outra estrada romana contribuiu para o futuro Caminho Central: a via XIX, rota que conectava o Conventus Bracarensis às margens do rio Lima, que à época era conhecido como Lethes, celebrizado numa das mais importantes lendas do Alto Minho, a do “Rio do Esquecimento”, que haveremos de abordar no capítulo referente às Lendas do Caminho Português. E da atual Ponte de Lima seguia para Tude (Tui), Turoquoa (Pontevedra) e Aquis Celenis (Caldas de Reis). Como nos séc. II e III Compostela não era mais que um aquartelamento romano, um pequeno castro e um campo de telas (cemitério), a via seguia para a terceira das grandes cidades da Galécia, Lucus Augusti (Lugo) até alcançar Asturica.

Fotografia | Ponte de Lima, caminho Central, banhada pelo rio que os romanos chamavam de “Lethes”, o “Rio do Esquecimento”.

Ponte românica sobre o rio Arnoia, Allariz, Vía de la Plata 

A partir de 1065, quando Fernando Magno peregrina de Coimbra a Santiago, inaugura o Caminho Central como o conhecemos. Contudo, e porque o Caminho começa em cada uma das nossas casas, a rota jacobeia portuguesa principal (a que liga Lisboa a Santiago) vai sofrer uma evolução, tendo o Porto como núcleo central, já que da Cidade Invicta partem três caminhos: o Central por Braga e o Central por Barcelos (que a partir do séc. XIV conhece enorme incremento com a construção da ponte sobre o rio Cávado, atestado ainda pela mais importante de todas as lendas portuguesas do Caminho de Santiago, a do Senhor do Galo), ambos a confluírem em Ponte de Lima e daí até Valença, Tui, Porriño, Redondela, Pontevedra, Caldas de Reis, Padrón e Santiago. Também do Porto inicia um outro caminho já documentado desde os tempos de D. Manuel I, conhecido nos dias de hoje como o Caminho Português da Costa, que parte do burgo portucalense em direção a S. Tiago de Custóias (Matosinhos), Moreira da Maia, S. Pedro de Rates e daí até à Póvoa de Varzim, percorrendo toda a orla marítima até Caminha (passando pela importante igreja de S. Tiago de Castelo de Neiva, no concelho de Viana do Castelo), até Vila Nova de Cerveira, confluindo finalmente com o Caminho Central em Valença. Refira-se ainda o surgimento, ao longo do tempo, de variantes dos caminhos junto ao litoral, como por exemplo, atravessando de barca o rio Minho, em Caminha, até A Guarda e daí por Baiona Vila Nova de Arousa em direção a Padrón, no Caminho Central.

O fenómeno da peregrinação jacobeia não foi nem é um exclusivo do litoral, já que outras importantes rotas recortavam o interior português com epicentro em Viseu. Rotas estudadas por investigadores fundamentais no que à história das vias lusas dizem respeito, historiadores como Baquero Moreno ou Arlindo Ribeiro da Cunha identificaram rotas que atravessavam a Serra da Estrela rumo a Belmonte, de Salamanca a Trancoso, com as mesmas a confluírem na cidade de Viriato. É da capital da Beira Alta que parte, agora como no passado, o Caminho Português do Interior, em direção a Castro Daire, Lamego, Régua, Vila Real, Vila Pouca de Aguiar até alcançar Chaves e passar a fronteira em direção a Verín, Ourense, Cea, Ponte Ulla e Santiago.

Nos dias de hoje outras importantes rotas do passado têm vindo a ser estudadas e reconhece-se o seu contributo para o crescimento do culto jacobeu no território português (comprovado pela enorme quantidade de povoações que têm como hagiónimo ou padroeiro Santiago Maior), como por exemplo o Caminho da Geira e os Caminhos do Alentejo.

Ao Caminho da Geira, os galegos chamam de “Caminho da Rainha Santa”, rota que a esposa de D. Dinis terá percorrido numa das duas peregrinações que terá realizado a Compostela, entre os anos de 1325 e 1335. O atual caminho, conhecido também como o da Geira e Arrieiros, parte de Braga, atravessa a antiga geira romana (ou Via VII), por Terras de Bouro até à Portela do Homem, e já em terras espanholas, passando pela vila termal de Lóbios, entrando novamente em território português na povoação de Castro Laboreiro, seguindo uma vez mais por terras galegas até Ribadavia, A Estrada, Pontevedra e, finalmente, Compostela.

Mértola, no caminho do Alentejo, foi a primeira sede da ordem de Santiago em Portugal_Igreja (antiga Mesquita) de Mértola

Fotografia | Mértola, no caminho do Alentejo, foi a primeira sede da ordem de Santiago em Portugal. Igreja (antiga Mesquita) de Mértola.

Os Caminhos do Alentejo têm como centro fundamental a cidade de Mértola, que de 1248 a 1482 foi a sede da Ordem de Santiago em Portugal. Por essa razão, as rotas conhecidas hoje em dia como “Caminho Nascente” e “Caminho da Raia” partem da antiga urbe muçulmana passando por importantes localidades como Beja, Évora, Estremoz (Caminho Nascente) ou Serpa, Vila Viçosa ou Elvas, confluindo as duas vias em Alpalhão e a partir daí por Nisa, Castelo Branco até alcançar Viseu e seguir pelo Caminho do Interior até Santiago.

Por fim, importa lembrar ainda o tramo da Via de la Plata (que liga a Andaluzia à cidade do Apóstolo) e que, partindo de Zamora, entra por território nacional em Bragança e daí até Vinhais e, já no concelho de Chaves, passa a fronteira em direção a Verín e Allariz, passando pela lendária povoação de Santa Maria de Augas Santas até Ourense e dai até Santiago de Compostela, meta final de todos os caminhos portugueses.